O sol e a lua viam-se de quando em quando
Bem de longe, sem se aproximarem muito
Um olhava para o outro sem nada demonstrar
Nem podiam, nunca estavam sozinhos
Milhões de olhares os acompanhavam dia e noite
Mesmo quando anoitecia
Milhões de pontos luminosos apareciam para bisbilhotar
Esperavam todos para ver os dois se despirem
e a putaria começar
O sol, tímido que era, nada falava
A lua, mantendo a pose, ficava na dela
E nisso passaram séculos, e nada
Todos já haviam perdido o interesse
Foi quando aconteceu
A emancipação da mulher chegou na lua
E ela tomou a iniciativa
Caminhou em direção ao sol com a rapidez de um foguete
Ele ficou ali parado, cada vez mais vermelho de vergonha
Todos perceberam o que estava acontecendo e tentaram espiar
Mas a lua não era mais tão bobinha
Deitou-se por cima do sol e apagou a luz
Só o que se via era a silhueta dos dois
A coisa durou poucos minutos
Foi sem preliminares
Mas quando a lua saiu de cima do sol
Ele estava bobo e redondo
E ela, que sempre fora a boa menina
Agora dava e se lambuzava o quanto queria
segunda-feira, 27 de julho de 2009
É tudo muito urgente
Estava me sentindo muito só hoje
Não encontrei ninguém para conversar
Então liguei a TV para conversar comigo
Passavam umas notícias
Sentei para prestar atenção
O cara do jornal gritava alguma coisa
Só entendi que a menina tinha 17 anos
Já tinha cinco filhos
Quando ficou grávida do sexto
Tentou abortar tomando chumbinho, e morreu
Depois passou o cara que dirigia bêbado
Atropelou sete crianças no ponto de ônibus
Em frente a uma escola
O cara do jornal gritava de novo
Enquanto mostrava os pneus do carro
Sujos de sangue
Assisti isso por algum tempo e não me senti mais sozinho
Enquanto o cara do jornal mostrava ao vivo o tiroteio na favela
E fazia um discurso moralista
Subi até meu quarto
Peguei a arma na gaveta
E atirei na minha cabeça
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