segunda-feira, 27 de julho de 2009

O sol e a lua

O sol e a lua viam-se de quando em quando
Bem de longe, sem se aproximarem muito
Um olhava para o outro sem nada demonstrar
Nem podiam, nunca estavam sozinhos
Milhões de olhares os acompanhavam dia e noite
Mesmo quando anoitecia
Milhões de pontos luminosos apareciam para bisbilhotar
Esperavam todos para ver os dois se despirem
e a putaria começar

O sol, tímido que era, nada falava
A lua, mantendo a pose, ficava na dela
E nisso passaram séculos, e nada
Todos já haviam perdido o interesse

Foi quando aconteceu
A emancipação da mulher chegou na lua
E ela tomou a iniciativa
Caminhou em direção ao sol com a rapidez de um foguete
Ele ficou ali parado, cada vez mais vermelho de vergonha
Todos perceberam o que estava acontecendo e tentaram espiar
Mas a lua não era mais tão bobinha
Deitou-se por cima do sol e apagou a luz
Só o que se via era a silhueta dos dois
A coisa durou poucos minutos
Foi sem preliminares
Mas quando a lua saiu de cima do sol
Ele estava bobo e redondo
E ela, que sempre fora a boa menina
Agora dava e se lambuzava o quanto queria

É tudo muito urgente

Estava me sentindo muito só hoje

Não encontrei ninguém para conversar

Então liguei a TV para conversar comigo

Passavam umas notícias

Sentei para prestar atenção

O cara do jornal gritava alguma coisa

Só entendi que a menina tinha 17 anos

Já tinha cinco filhos

Quando ficou grávida do sexto

Tentou abortar tomando chumbinho, e morreu

Depois passou o cara que dirigia bêbado

Atropelou sete crianças no ponto de ônibus

Em frente a uma escola

O cara do jornal gritava de novo

Enquanto mostrava os pneus do carro

Sujos de sangue

Assisti isso por algum tempo e não me senti mais sozinho

Enquanto o cara do jornal mostrava ao vivo o tiroteio na favela

E fazia um discurso moralista

Subi até meu quarto

Peguei a arma na gaveta

E atirei na minha cabeça