quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Desgosto

Aquela foto
Maldita lembrança
Realmente parecíamos felizes
Isso é o que me atormenta
O que aconteceu?
Quando penso no presente
Só sinto um desgosto que me muda a face
Não consigo sequer imaginar estar perto de você
Sem sentir esse desgosto que parece vir do estômago
Não lembro de quem foi a culpa
Talvez tenha sido minha
Por ter insistido tanto

Sentimentalismos

Não seja sentimental
Não se deixe governar por sentimentos
Deus fez o homem racional
Não renuncie a essa dádiva,
que nos diferencia dum cachorro
Para que se apaixonar?
Para que sentir?
Olhe as coisas do alto
Seja superior
Se divirta
Mas não se iluda com sentimentalismos
Eles vão e se vão
Ao prazer dos ventos
Calcule os passos
Meça as palavras
Observe atento
Divida experiências,
Mas não deixe que se apropriem de você
Não se apaixone
Não seja tolo
Deixe tal coisa para pessoas como eu
Que se emociona com nasceres do sol
Com sorrisos e palavras
O que dizer?
Um tolo
Que age com o coração
Que acredita no homem, e não num Deus
Cujo único destino por isso tudo é viver

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O sol e a lua

O sol e a lua viam-se de quando em quando
Bem de longe, sem se aproximarem muito
Um olhava para o outro sem nada demonstrar
Nem podiam, nunca estavam sozinhos
Milhões de olhares os acompanhavam dia e noite
Mesmo quando anoitecia
Milhões de pontos luminosos apareciam para bisbilhotar
Esperavam todos para ver os dois se despirem
e a putaria começar

O sol, tímido que era, nada falava
A lua, mantendo a pose, ficava na dela
E nisso passaram séculos, e nada
Todos já haviam perdido o interesse

Foi quando aconteceu
A emancipação da mulher chegou na lua
E ela tomou a iniciativa
Caminhou em direção ao sol com a rapidez de um foguete
Ele ficou ali parado, cada vez mais vermelho de vergonha
Todos perceberam o que estava acontecendo e tentaram espiar
Mas a lua não era mais tão bobinha
Deitou-se por cima do sol e apagou a luz
Só o que se via era a silhueta dos dois
A coisa durou poucos minutos
Foi sem preliminares
Mas quando a lua saiu de cima do sol
Ele estava bobo e redondo
E ela, que sempre fora a boa menina
Agora dava e se lambuzava o quanto queria

É tudo muito urgente

Estava me sentindo muito só hoje

Não encontrei ninguém para conversar

Então liguei a TV para conversar comigo

Passavam umas notícias

Sentei para prestar atenção

O cara do jornal gritava alguma coisa

Só entendi que a menina tinha 17 anos

Já tinha cinco filhos

Quando ficou grávida do sexto

Tentou abortar tomando chumbinho, e morreu

Depois passou o cara que dirigia bêbado

Atropelou sete crianças no ponto de ônibus

Em frente a uma escola

O cara do jornal gritava de novo

Enquanto mostrava os pneus do carro

Sujos de sangue

Assisti isso por algum tempo e não me senti mais sozinho

Enquanto o cara do jornal mostrava ao vivo o tiroteio na favela

E fazia um discurso moralista

Subi até meu quarto

Peguei a arma na gaveta

E atirei na minha cabeça